Cabeleireiro sustentável existe e é brasileiro
Imagine um salão de cabeleireiro sustentável: os resíduos gerados como o vidro do esmalte, o algodão usado, o resto de tinta de cabelo, a lixa de unha e até o cabelo cortado são destinados corretamente a fim de gerar menos impacto no meio ambiente.
Os produtos utilizados são mais naturais, não possuem ingredientes provindo do petróleo e possui um programa de milhagem, no qual a cliente pode trocar embalagens de produtos por pontos para utilizar como serviço no futuro. Esse salão de cabeleireiro existe, fica na Rua Bahia, no bairro de Higienópolis, em São Paulo, capital.
O Nabahia foi fundado em 2005 pela Lenir Bragantin e posteriormente suas filhas se tornaram sócias, Rafaella e Ruchelle. Entrevistamos a moving girl Ruchelle Crepaldi, que foi a responsável por implementar a gestão lixo zero do salão a partir de 2013.
Quem é a Ruchelle?
“A princípio, sou uma pessoa muito mais observadora do que oradora. Acredito que como herança de uma família sempre liderada por mulheres, me considero uma pessoa forte sem medo de vencer obstáculos.
Talvez pelo fato de ter sido mãe com 22 anos de uma gestação gemelar não programada, me vi numa condição de tomar as rédeas da minha vida muito cedo. Não apenas como mãe, mas como mulher!
Sendo filha de mãe e pai cabeleireiros, desde muito criança frequentei salões de beleza. Neste sentido, considero ter sido uma grande experiência de vida. Desde muito cedo refletia sobre o ofício dos meus pais de cuidar da imagem e autoestima de outros.”
Como foi a sua primeira experiência em um salão de cabeleireiro?
“Minha primeira experiência direta com a profissão foi aos 15 anos quando decidi ser assistente da minha mãe, porque entendi que meu interesse estava muito mais nas relações de trabalho, pessoas e nos processos que moviam toda aquela estrutura do que propriamente o trabalho criativo de ser cabeleireira.
Anos depois, em 2006, minha mãe sempre muito motivada a crescer e fazer diferença, após mais de 30 anos sendo empregada por grandes salões, decidiu abrir seu próprio salão.
Foi nesse momento que juntas empreendemos nosso projeto de salão que valorizasse a relação família versus trabalho. Uma empresa humanizada, cuja equipe tivesse seu lugar de fala e espaço para se sentirem tão especiais quanto seus clientes.
Como gestora e proprietária do Nabahia, me vi colocando em prática conceitos que já idealizava há tanto tempo (observando o modelo de trabalho antigo em que meus pais sempre estiveram inseridos) e que agora me pareciam obsoletos e visivelmente antiquados.
Hoje, além da grande satisfação que sinto da família que construí, me sinto privilegiada e orgulhosa da estrutura de negócio que criamos dentro do mercado de beleza.”
Como é empreender no Nabahia?
“Empreender não é e nunca foi fácil. É muito prazeroso idealizar um modelo de negócio que corresponda com seus propósitos e valores, porém colocá-los em prática é um desafio inimaginável.
São desafios diários que vão desde relações interpessoais a problemas financeiros que muitas vezes nos desestruturam de uma maneira que o desafio passa a ser como encontrar motivação diante de tantos obstáculos.
Apesar disso, motivação é o que nunca faltou para nós!
Quando abrimos o Nabahia, nos vimos numa situação muito delicada. Nunca tivemos investimentos de terceiros, o que nos obrigava a trabalhar um dia para pagar o outro.
Foi um período muito delicado para toda a família. Mesmo minha mãe somando mais de 40 anos de experiência de salão de cabeleireiro, percebeu que muitas habilidades nos faltavam.
Por isso, nesse momento percebemos as grandes dificuldades do empreendedorismo feminino. Não diria que isso nos deixou abalar. Ainda assim, o fato de sermos três mulheres tocando um salão majoritariamente frequentado por mulheres nos obrigou a criar novas formas de trabalho que nunca imaginávamos.”
Como foi o processo?
“Depois de alguns anos acumulando dívidas, aos poucos fomos equilibrando as contas e montando uma equipe cada vez mais sólida e alinhada com os propósitos do salão. Pouco tempo depois perdermos parte dela e voltarmos para a estaca zero.
Entretanto, assumimos muitas lutas nesses anos todos. Contudo, as lutas internas foram as que nos fizeram mais fortes. Vimos o salão totalmente comprometido com dívidas que já somavam mais de 1 milhão. Dessa fase eu só me lembro que me tornei uma negociadora nata!
Definitivamente não foi um processo fácil olhar para dentro e ver o quanto nós três estávamos nos masculinizando, nos enrijecendo para conseguir enfrentar tantas dificuldades, sempre parecendo forte e pouco fragilizadas.
Afinal, empreender é difícil, sim. Porém, mais forte do que as dificuldades são as alegrias que vivemos todos esses 14 anos de salão. Acima de tudo, hoje o Nabahia é um reflexo de todos os nossos sonhos e propósitos. Portanto, tenho muito orgulho de dizer que temos um time unido que valoriza nosso espaço, prezam pelas nossas ações e participam desse processo de crescimento coletivo.”
O que te inspirou empreender um salão de cabeleireiro sustentável?
A sustentabilidade chegou na empresa de uma forma leve e bem natural. Há uns 7 anos, meu cunhado que na época estava envolvido com os Global Shapers (uma iniciativa do World Economic Forum) me apresentou um rapaz que fazia parte do time que tocava o sistema de Empresas B no Brasil.
Minha irmã lembra de eu ter ficado bastante impressionada e obcecada com a idéia de transformar o Nabahia nesse modelo de negócio. Na época, estávamos bem longe, porém, nunca deixou de ser um sonho.
Imaginar que poderíamos fazer da nossa empresa uma extensão dos valores que já vivíamos em casa foi uma pílula motivadora. Porém, me lembro da frustração que sentia em ver a quantidade de lixo que gerávamos sem qualquer cuidado na separação do que era reciclado ou não.”
E essa mudança de modelo de negócios?
“A princípio, conversei com uma amiga muito envolvida com o terceiro setor. Desabafei sobre as dificuldades que enfrentava em implantar a coleta seletiva no nosso estabelecimento. Nesse momento, eu recebi o primeiro grande conselho. Desse modo, começamos a caminhar rumo à nossa grande meta, transformar o Nabahia num salão de cabeleireiro sustentável!
Enfim, ela me mostrou que o melhor seria trazer uma cooperativa dentro do salão para mostrar a equipe. Além disso, o impacto da ação do encaminhamento correto dos resíduos e o valor que cada um deles tem para o mercado.
Sem dúvida foi lindo e emocionante dar esse primeiro START! Por consequência, todos do nosso time se tornaram multiplicadores desse conceito não apenas no salão, bem como em suas respectivas casas e comunidades.
Logo, o projeto sustentável começou a ganhar ainda mais corpo a partir de ideais da própria equipe. Nesse sentido, fomos nos profissionalizando mais e mais, surgindo mais idéias criativas para dar fim a tudo que gerávamos! Como por exemplo, a coleta de resíduos de química que sobra na cumbuca; criamos um coletor especial para esse resíduo que é químico e danoso para a natureza.
Por fim, criamos coletores para diferentes fins, como por exemplo, um coletor para o cabelo picotado! Hoje mesmo encontrei um projeto que recebe esponjas de lavar louça e logo contactei.”
Qual foi o maior desafio para tornar o seu salão de cabeleireiro sustentável?
“Definitivamente, o maior desafio foi conscientizar a equipe de que toda esse esforço que estávamos movimentando era por uma boa causa. No entanto, é sempre um desafio mudar a mentalidade de alguém, quanto mais de uma equipe de mais de 40 pessoas.
Em outras palavras, foi um trabalho de formiguinha. Criar uma metodologia em que eu conseguisse me comunicar com cada um de forma diferente levando em consideração que temos pessoas com referênciais e bagagens muito distintas.
Desta forma, construí uma rede de apoio de profissionais incríveis da área de sustentabilidade. Esses profissionais nos ajudaram muito a construir esse futuro consciente para o Nabahia.”
Você sentiu medo de algo? Por quê?
“A principio, o salão não surgiu com um viés de salão de cabeleireiro sustentável desde 2005; ele foi se transformando no decorrer dos anos através da observações e da sede de mudança! Diria que da infinita vontade de sermos agentes transformadores.
Inicialmente tive medo e senti vergonha de comunicar o que fazia, já que para mim era somente uma obrigação como empresa. Todavia, foi realmente um desafio olhar para o lugar a que chegamos e dizer: Somos um salão de cabeleireiro sustentável!
Foram muitos medos que tive que vencer para finalmente estar segura em afirmar que o Nabahia hoje é o primeiro salão Lixo Zero do Brasil e que somos reconhecidos e respeitados por grandes empresas por esse grande feito.
Além disso, tive o prazer de receber o sócio-fundador da Davines e saber dele próprio que o Nabahia é um exemplo de negócio não só no Brasil, mas mundial.
Como resultado, me orgulho de ter feito do Nabahia, uma empresa que desafiou o status quo do mercado que mais polui o ambiente depois da indústria e que hoje tem uma solução sustentável para cada resíduo que gera dentro do seu sistema.”
Que dica phod@ você daria para uma mulher que deseja empreender de maneira sustentável?
“Empreenda com seu coração e nunca por visibilidade! Seja verdadeiro e leal à sua causa. Estamos vivendo uma era em que precisamos de mais e mais pessoas usando seus potenciais criativos para causas que transformam! Seja esse agente de transformação e use sua criatividade a favor do coletivo!”
Ruchelle Crepaldi, sócia proprietária do Nabahia
Por fim, é muito motivador saber que um dos negócios mais poluentes que existem, um salão de cabeleireiro, tem potencial para se tornar inovador, um salão de cabeleireiro sustentável. Isso é possível, miga! Ficou curiosa? Convido você a conhecer pessoalmente o Nabahia e também compartilhar esse post com suas amigas moving girls maquiadoras e cabeleireiras para elas também se inspirarem!
Eluanna zingara
Que maravilhoso , um sonho 💕
Moving Girls
Por um Brasil todo assim, né, miga ❤️
Kadhine
Sou cliente so NaBahia, amiga da Ruchelle e toda sua família. Acompanhei o salão desde as obras e sei de toda a trajetória e força que este projeto e essas mulheres de impacto têm. Este texto é maravilhoso e repreenderá está força!
Moving Girls
Nós também adoramos conhecer a história do salão, esperamos que incentive muitas a iniciarem seus próprios negócios! ❤️😉
Ana Oliveira Goes
Sou fan das tres!
Conheci o salao em 2016 e me apaixonei por esse lugar é aparte de um sonho que tenho realizado por essas lindas
Estou em evolução para realizar o meu! Axé meninas que nosso senhor do Bomfim às protejam
Moving Girls
Miga, a gente aqui também ficou apaixonada por esse lugar! E vamo botar em prática esse projeto aí ❤️