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Mulheres no Afeganistão na luta por identidade

Miga, você já parou para pensar nas diferenças que cercam as mulheres ao redor do mundo? Recentemente, o novo “direito” para ter o nome na certidão de nascimento de filhos e filhas foi concedido para mulheres no Afeganistão. Vou dividir aqui um pouco de como essa campanha de igualdade está acontecendo.

De acordo com a ABC News, o presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, assinou uma emenda que permite que o nome de mães apareçam na certidão de nascimento de seus filhos(as). Contudo, isso aconteceu depois de uma campanha de três anos por ativistas dos direitos das mulheres.

A campanha foi intitulada #WhereIsMyName (tradução livre: #onde está meu nome) e a luta é justamente essa: o direito das mulheres em ter seus nomes em documentos oficiais, incluindo a certidão de nascimento de seus filhos e filhas.

Assim, essa emenda foi assinada pelo presidente depois de sido postergada e passado por algumas mudanças pelo Parlamento do Afeganistão.

“Eu me sinto como um pássaro que estava em uma gaiola que acabou de ter a porta aberta, conquistando o sonho de voar no céu.”

Ativista Sonia Ahmadi, que se juntou à campanha desde o início, em 2017.

Conflitos internos

Na tradição do Afeganistão, usar o nome de uma mulher em público traz vergonha para sua família e essa mudança e sua implementação vai levar um tempo, dizem as autoridades. Em contrapartida, essa movimentação está enfrentando oposição de líderes conservadores.

As ativistas da campanha estão lutando contra tradições afegãs enraizadas, como esse exemplo do nome não usado em público. Ou seja: as mulheres, quando referidas em público, são chamadas pelo nome do parente homem mais próximo da sua família.

Além disso, nomes femininos não estão presente em documentos no geral, nem em convite de casamento (do próprio casamento) e muito menos em lápides nos cemitérios.

Movimento #WhereIsMyName

Movimento feminino no Afeganistão
Mulheres do condado de Herat, cidade que iniciou os movimentos de igualdade. Fonte: RFERL.org

O movimento, que teve início na cidade de Herat, porém está em expansão ao redor do mundo, tem enfrentado grandes oposições do próprio país muçulmano, que é conservador e patriarcal. Durante uma conferência com imprensa, autoridades locais e fundadoras do evento, o governador de Herat, Wahid Qattali, disse que seu medo era ter uma resistência contra essas mudanças.

Apesar disso, Mr. Qattali mostrou total apoio e suporte ao movimento. Logo, pediu aos jornalistas locais para incluir o nome da própria mãe, Zahida, nas suas reportagens.

“Eu não fiz nada para minha mãe no passado. Mas eu quero conceder esse

presente para ela: em não esconder mais a sua identidade.”

Governador de Herat, Mr Wahid Qattali.

A luta apenas começou

Heather Barr, co-diretora dos direitos humanos das mulheres, falou que ainda há um longo caminho a percorrer. Portanto, esse movimento foi um início muito significante.

“O que significa ser realmente importante é que, como os nomes de

mulheres não apareciam em documentos, não apareciam em registros

públicos, suas identidades realmente não existiam – mas ainda muitos de

seus direitos legais não existem.”

Heather Barr

De acordo com Heather, atividades básicas como: registro escolar, obter alguma assistência de saúde, ter um passaporte ou viajar com seu filho, ou filha, é impossível para mães no Afeganistão. Sem a presença do pai da criança nada disso acontece.

#WhereIsMyName
Uma das fotos usadas para representar o movimento #WhereIsMyName na mídia. Fonte: Daily News

Acima de tudo, os passos para mudar uma sociedade, que durante toda a vida teve as mulheres como propriedade do pai, depois do marido para finalmente virar propriedade do filho são o início de uma grande revolução.

Oposição

Como resultado, homens muito poderosos dentro do país já deixaram claras as suas posições em relação ao movimento e a essa nova emenda. Em suma, muitos acreditam que esse plano veio da América e Europa e não acreditam que isso vai forçar todos a mudar.

A princípio, a maior dificuldade será com o Talibã, juntamente de pessoas conservadoras e tradicionais. De acordo com conversas entre o governo do Afeganistão e o Talibã (que controla mais da metade do país), as mudanças estão acontecendo vagarosamente. Nesse sentido, as mulheres continuam com medo que os direitos limitados que possuem hoje sejam deixados de lado.

Durante 5 anos governando o Afeganistão, o Talibã forçou leis islâmicas muito restritas. Por exemplo, as mulheres eram obrigadas a cobrir seus rostos. Além disso, era negado a qualquer mulher o direito de estudar, trabalhar ou sair de casa sem a presença de algum homem da família.

“Meu sentimento de felicidade pode parecer ridículo para mulheres em outros

países, mas quando se vive em uma sociedade onde mulheres são física

e espiritualmente excluídas, alcançar esse direito básico é uma tarefa

grande e difícil.”

Sonia Ahmadi

Migas, eu costumo acompanhar bastante as notícias internacionais com temas relacionados a mulheres e a luta por igualdade e posso dizer: toda vez eu fico chocada e frustrada. Eu desejo realmente que essa e todas as outras mulheres que passam por situações similares encontrem dentro de si força, garra e a esperança necessária em não desistir. Não consigo imaginar o quão difícil é ter negada uma consulta médica, ida ao supermercado ou a compra de uma passagem área.

O que você achou dessa nova lei e do movimento? Deixe seu comentário.

Quer saber como anda o combate à desigualdade de gênero na Espanha? Leia o artigo da correspondente Thais Andrade.

Já morei em Dublin, já visitei Noruega, Finlândia, voltei para o Brasil e descobri que não importa o local que você mora e sim o propósito pelo qual se vive. Professora de inglês e fundadora do projeto @girlsinajourney.

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