Espanha: o papel da mulher na arte
Hola, miga! Você já parou pra pensar que apesar de nós mulheres termos um papel fundamental no enriquecimento da arte, nossas contribuições sempre foram mostradas de forma secundária? Pois é, tanto a mídia, quanto os museus por muitos anos passaram essa impressão errônea de que há poucas mulheres artistas por aí, quando, na verdade, somos muitas.
Onde tudo começou: a revolução feminina na arte
Primeiramente, quero te contar sobre um dos movimentos pelo mundo que deu o pontapé inicial para mudar esse cenário. O Guerrilla Girls, foi um grupo de artistas e ativistas feministas, que surgiu nos anos 80 nos Estados Unidos. Bem como o humor, elas usam uma imagem irreverente e provocativa para denunciar preconceitos de gênero e raça. Além disso, mostram a corrupção na política, arte, cinema e cultura pop. A marca registrada do movimento são as máscaras de gorila que as ativistas sempre usam em público.
Por exemplo, uma das campanhas que gerou maior repercussão questionou o número de artistas femininas expostas no famoso museu do Met em Nova York. Na época apesar de ter apenas 5% de artistas mulheres expostas, 85% dos nus eram femininos. Pode isso, Eduardo? Posteriormente, devido ao seu sucesso, a campanha foi relançada em 2011.
A exposição espanhola lançada a pedido do povo
Da mesma forma, aqui na Espanha não poderia ser diferente. O maior museu do país, Prado, é uma das entidades responsáveis por colaborar com essa perspectiva machista da arte nos últimos 200 anos. O jornalista Peio H. Riaño lançou o livro Las Invisibles para ressaltar essa desigualdade de gênero dentro do museu, onde revela que apenas 11 obras dentre as 1.700 expostas na coleção permanente são de mulheres.
Em resposta às críticas e questionamentos, o museu do Prado iniciou em outubro desse ano a exposição Invitadas (“convidadas” em espanhol). O objetivo é mostrar os estereótipos que a arte espanhola legitimou sobre as mulheres e resgatar os nomes das artistas esquecidas, com obras de 1833 a 1931. Falomir, diretor do museu, assumiu o compromisso de tornar as mulheres visíveis em sua programação. Ele também conta que o trabalho dessa exposição não foi feito por nenhum outro museu europeu.
O tour está estruturado em duas partes. A primeira com obras assinadas por homens, onde os trabalhos escolhidos enfatizam a violência exercida contra as mulheres da época. Muitas escravas e modelos nuas choram por não querem posar. Além disso, há dois quadros polêmicos de Pedro Sáenz Sáenz, que retratam duas meninas nuas. Na época, as obras não geraram surpresa, e o pior os quadros foram adquiridos pelo governo.
Na arte machista, nem a rainha foi poupada
Juana I de Castilla, que assumiu o trono entre 1504 e 1555 na comunidade autônoma de Castela e Leão aqui na Espanha, ficou conhecida mundialmente como “Juana La Loca”. Juana foi retratada por diversos pintores da época, o que alimentou o mito da sua loucura, uma dessas obras faz parte da exposição atual do museu do Prado. Atualmente, muitos estudiosos acreditam que de louca Juana não tinha nada, mas que ela foi vítima da conspiração política masculina, onde a acusaram como louca para invalidar o seu poder, pelo simples fato de ser mulher. O resultado foi que Juana ficou confinada no palácio de Tordesillas por quase 50 anos.
As heroínas invisíveis
A segunda parte da exposição mostra uma série de artistas femininas da época, das quais muitas estão sendo expostas pela primeira vez. Algumas das talentosas artistas são Maria Roësset Mosquera, Flora López Castrillo, Aurelia Navarro Moreno, Emilia Carmena de Prota, Concepción, Figuera Martínez-Güertero e Jane Clifford, que foi a primeira mulher admitida na Sociedade Francesa de Fotografia.
A exposição Invitadas estará disponível até 14 de março de 2021 e você pode conferir mais obras aqui. Navarro, curador do museu do Prado, afirmou que essa exposição e só o começo, e que há muitos nomes de obras femininas na sua agenda.
Essa exposição mostra uma realidade triste, porém traz uma reflexão necessária. Conhecimento é poder, miga. Acredito ser fundamental entendermos o histórico dessa misoginia, para então lutarmos pelos nossos direitos. Nesse sentido, como dito pela escritora Maya Angelou: “Tenho grande respeito pelo passado. Se você não sabe de onde veio, não sabe para onde está indo.” E você, miga, o que achou da exposição?
Por fim, deixo aqui uma leitura complementar, para você conhecer a revolução artística que outras mulheres estão fazendo ao redor do mundo, começando pelos Emirados Árabes.
Un beso,
E até a próxima!