Pessoas virtuais: Tendência estratégica ou modinha?
Já ouvimos diversas vezes sobre a importância de humanizar as marcas. Com base nesse conceito, temos visto uma crescente tendência: o uso de mascotes, avatares ou “pessoas virtuais” por diversas marcas, de vários segmentos. Essas pessoas virtuais têm nome, personalidade, tom de voz, expressões, aparência, estilo e uma rotina – em alguns casos, até redes sociais. Essa tendência vem para mostrar que para fortalecer os atributos de uma marca, como sua visão e valores, ela não precisa de uma pessoa de verdade. Basta ser um personagem virtual divertido, que interage e integra as pessoas em suas conversas e assuntos, que consequentemente ganharão muitos admiradores e venderão muito com naturalidade.
Um personagem é a personificação de uma marca, representando-a visualmente e passando a sua mensagem de forma simpática, carismática e sutilmente persuasiva. O uso de pessoas virtuais está positivamente ligado ao comportamento de compra do consumidor, desde a intenção até a decisão final. Um personagem traz fãs à marca, podendo estes fãs até rejeitar um determinado produto, mas se tornarem fã de um personagem. Dessa forma, a marca garante a lealdade e a confiabilidade dos seus consumidores. Quando um consumidor é fã de uma marca, ou de algo que a representa, não precisa de muitos motivos para se decidir por comprar. Muitas marcas vêm adotando essa estratégia, entre elas temos o Magazine Luíza, a Amaro, a Casas Bahia, a Natura… se essa tendência vai se perpetuar é difícil dizer, mas, o fato é que já temos muito a aprender sobre as pessoas virtuais.
O Vale da Estranheza e os níveis de realismo das pessoas virtuais
Sem dúvida, as pessoas virtuais estão cada vez mais realistas, chegando a confundir quem olha pela primeira vez. Esse é o caso da Mara da Amaro, que além de linda é extremamente realista.
Esse quesito nos leva a um questionamento: qual é o nível de realismo aceitável? Uma pessoa virtual pode ir desde um cartoon até um humano realista. Porém, existe uma teoria chamada “Vale da Estranheza” – do Inglês Uncanny Valley, criada em 1970 por Masahiro Mori. Essa teoria diz que personagens muito próximos a humanos em suas ações e propriedades causarão aversão nos humanos, devido a grande semelhança. A teoria é chamada de “vale” por se tratar de uma linha tênue entre a empatia e a aversão. Quanto maior o realismo maior a empatia, porém a atitude forçada de parecer um humano pode gerar aversão. Logo, é importante que os designers e criadores considerem o Vale da Estranheza e se preocupem em criar personagens fluídos e naturais, sem forçar a barra.
Posicionamento e Personalidade das pessoas virtuais
Não é incomum vermos pessoas virtuais com redes sociais, rotina e afins. Mais do que isso, é muito comum vermos uma legião de seguidores que acompanham, interagem e engajam muito com essas pessoas virtuais. A exemplo disso, temos a influencer Lil Miquela, com mais de 2,8 milhões de seguidores, que mostra sua rotina nas redes, faz publis e faz até isolamento social! Haja personalidade e posicionamento, né?
Basicamente o objetivo de uma pessoa virtual é comunicar para o consumidor os valores de uma empresa, criando empatia. A imagem, cores e traços de personalidade projetam o perfil e valores da empresa de forma que se fixem na mente dos clientes de forma agradável e natural. Sendo assim, a postura desse personagem e seu posicionamento são muito importantes, tendo em vista que ele é a personificação da marca. Todavia, em tempos de cancelamentos na internet, fica aquele receio em criar um personagem com personalidade forte e posicionamento claro que agrade a muitos, mas que pode ser cancelado, prejudicando a marca. São várias as atribuições que uma pessoa virtual pode ter ao representar uma marca, desde ser porta-voz do atendimento da empresa até ser muito mais do que uma garota propagando e se tornar influencer – né Lu, do Magalu?
Até onde ir?
Atualmente, muitos assuntos estão em pauta como padrões de beleza, racismo, feminismo, e por aí vai… sendo assim, a marca pode criar um personagem imune às polêmicas e cancelamentos, o que pode ser vantajoso para a marca, mas que pode ser vista como alienada e fora de contexto por seus espectadores/seguidores. Partindo desse princípio, as marcas podem cair na armadilha de ter que definir quem é sua marca em atributos muito específicos, que vão muito além de visão, valores e bandeiras, e que consequentemente, podem colocar seus clientes em caixinhas pré-estereotipadas, afastando “aqueles que não se encaixam” nesses atributos.
Definir se uma marca é mais velha ou mais jovem, se faz esporte ou não, se é homem ou mulher, se gosta de ler ou de qualquer outro hobby, se é mais baladeira ou caseira pode aproximar algumas pessoas e afastar outras de acordo com a identificação com a pessoa virtual que representa a marca. A depender da aceitação e do afastamento, mais uma vez a marca pode se ver na linha tênue entre criar um personagem que seja amado ou totalmente cancelado.
Case de sucesso de pessoas virtuais: A Lu do Magalu
Quando pensamos em pessoas virtuais que representam uma marca, de quem é que você lembra? Com certeza, a grande maioria lembra da Lu do Magalu. E não é por acaso, ela virou a queridinha dos internautas, mostrando sua rotina e até fazendo publis para outras marcas. Atualmente, o Magazine Luíza é um sucesso premiado no varejo nacional, e muito dessa fama é graças ao Marketing da empresa. Mais especificamente, graças a Lu, responsável por trazer o título de primeiro varejista do mundo a atingir 1 milhão de seguidores no YouTube, além de reunir mais de 14 milhões de seguidores somados em suas redes sociais.
Toda essa boa fama da Lu, vem com base no Storytelling. Segundo o diretor de Marketing do Magazine Luíza, Pedro Alvim, uma boa história é bem mais fácil de ser lembrada do que uma propaganda comum. E é baseado nesse pilar de Storytelling que a Lu foi desenvolvida e vem sendo fortalecida, dia após dia. Logo, ainda sobre os pilares de criação da Lu, Pedro enfatiza alguns pontos, que podemos analisar e ainda aprender muito com eles:
1. Tenha referências
Como a Camila Vidal sempre ensina, ter referências dos mais variados formatos e setores – principalmente fora do nosso nicho de atuação, traz grandes aprendizados e backgrounds para nosso negócio. No caso da Lu, as referências são influenciadoras digitais, que direcionaram a criação e direcionam suas ações.
2. Dê voz a seu personagem
Está claro que a internet não quer influenciadores mornos, quer influenciadores que se posicionam, que engajam e que mostrem ser relevantes para sua comunidade. E isso a Lu é! A exemplo da força da Lu com seu posicionamento, em 2019 foi criada a campanha “Em briga de marido e mulher se mete a colher, sim!” em comemoração ao Dia Internacional da Mulher. Neste mesmo dia, o Magazine Luíza vendeu colheres a R$ 1,80 e esgotou o seu estoque de 20 mil colheres em 4 horas. Esse posicionamento também gerou leads que concordam com a causa, afinal o posicionamento não é pontual, é como a Lu pensa e isso gera uma história que se mantém, e leads que chegam e escolhem ficar.
3. Conheça a sua comunidade
Conheça quem faz parte da sua comunidade, ouça o que eles querem e faça o conteúdo do seu personagem assertivo. Já viu os vídeos da Lu no YouTube, dando dicas sobre Fortnite? Ela ouviu seu público na plataforma que gosta muito de games!
4. Timing
Esteja no timing do que vem acontecendo. Estar preparado para engajar com seus seguidores e conversar dentro de algo que está no momento faz crescer ainda mais a admiração e o engajamento com os seguidores. E o que é a Lu papeando no Twitter?
Bom diaa! Pegue aqui nesse post, o que você precisa para terminar a semana!
— Lu do Magalu (em 🏠) (@magazineluiza) October 21, 2020
🎟️ PACIÊNCIA
🎟️ DISPOSIÇÃO
🎟️ CALMA
🎟️ FORÇA
5. Foque no Storytelling e seja consistente
Histórias humanizam a marca, e humanizam muito mais quando são contatadas por uma pessoa virtual. No caso da Lu, o Magazine Luíza foi patrocinador do carnaval de Salvador, mas foi a Lu quem subiu no trio, foi para o camarote e fez selfie com os artistas. Ela também já fez publis para outras marcas. Tudo isso faz parte da história da Lu.
6. Mostre as vulnerabilidades
Assim como um ser humano, as pessoas virtuais também são vulneráveis e erram, acertam… e são as tentativas, erros, acertos, vulnerabilidades que também contam a história do personagem e mostram a sensibilidade e sentimentos do personagem, gerando empatia. A lu chorou quando o Brasil perdeu na Copa do Mundo e muitos seguidores se solidarizaram e mostraram empatia, nesse caso, quem ama futebol sabia o que a Lu estava sentindo, e sentiu junto com ela. Isso tudo reforça a personalidade, a vulnerabilidade, o Storytelling e a comunidade do personagem.
É, de fato a Lu tem muito a nos ensinar e também a nos encantar. Ela sabe muito sobre Marketing, Publicidade e sobre ser virtualmente humana na medida certa, sem causar estranheza e sem ser bizarra. Vamos ficar de olho na Lu, né, miga?
A virtualização das pessoas
As pessoas virtuais já fazem parte da nossa rotina e nem percebemos. São as figurinhas do WhatsApp, os Memojis criados nos Iphones, os Bitmojis e tantos outros aplicativos que criam avatares de nós mesmos. Essa tendência realmente tem se espalhado e se tornado mais comum no nosso dia a dia. Se você quer usar uma pessoa virtual no seu negócio, para mostrar o espírito da sua marca, você pode começar de forma mais fácil, com esses tipos de avatares que citei, do que com um personagem que se comunica por vídeo. E conforme a aceitação e evolução desse personagem com seu público você pode ir melhorando-o. Eu utilizo o meu próprio Bitmoji para ser a minha personalidade e personificação na minha marca Engenheira Empreendedora, e vem dando certo. Que tal testar no seu negócio também, miga?
Por fim, com tantas opções de virtualização de nós mesmos e de outras pessoas e com a criação de pessoas virtuais de tanto sucesso como a Lu do Magalu, O CB das Casas Bahia, A Nat da Natura, A Mara da Amaro e tantos outros personagens, podemos concluir que por hora essa tendência tem sido bem aceita e feito sucesso. A virtualização de pessoas tem sido muito comum em nossa rotina, o que faz com que aceitemos bem e até nos comuniquemos com esses personagens, que têm se tornado tão queridos, principalmente nas redes sociais. Dessa forma, se estava faltando algo no seu negócio, um meio criativo de transmitir as suas bandeiras e valores para o seu público, uma pessoa virtual pode ser uma boa pedida, miga!