Qual lugar a mulher negra ocupa em sua vida?
Miga, para iniciarmos essa conversa, responda para si: qual lugar a mulher negra ocupa em minha vida? Para essas mulheres o racismo chega antes.
Mulheres brancas chegam, com muito custo, a um cargo de liderança dentro de grandes organizações, mas raramente mencionam em sua trajetória profissional o papel de alguma mentora, escritora, poeta ou artista negra. O racismo chega antes! No Brasil, por exemplo, quando buscamos uma referência de CEO preta, encontramos a Rachel O. Maia com facilidade. Mas, você consegue se lembrar rapidamente de outro nome?
O racismo chega antes e começa na infância
Não é a toa que precisamos, desde a infância, educar crianças pretas reforçando redobradamente a sua autoestima. O ensino fundamental, por exemplo, foi um dos lugares mais doloridos o qual estive. Ainda na terceira ou quarta série fui alvo de violência verbal, que só anos depois, “descobri” ser racismo. Naquele tempo eu não entendia o porquê aquilo acontecia comigo.
Você consegue perceber o impacto que uma criança tem na vida de outra, né? É nesse período onde criamos muitas “verdades” sobre nós e os outros. Romper com essa deturpação da autoimagem e se ver de forma positiva, é um processo delicado e que pode custar anos. Um vídeo muito forte sobre isso é a “Tour pelo meu rosto” da Gabi Oliveira. Só assiste!
O poder da autoestima
Miga, eu e você por mais diferentes que somos, possuímos pelo menos um relato sobre autoestima, né? Coisas as quais não lidamos muito bem e, aos poucos, vamos ressignificando. Fato!
Mas, vamos pensar juntas, miga. Imagina como seria ressignificar a forma como vemos a cor da nossa pele ou nosso fenótipo. Isso é uma questão para você? Eu sempre tive uma relação muito saudável com a minha boca, ela nunca me incomodou, mas, teve um dia em que uma valentona da escola decidiu que me chamar de “beiçola” seria a melhor forma de apagar o meu brilho. Foi quase um ano inteiro ouvindo isso e ela convenceu todos os alunos da sala a me chamarem assim! Essa é a primeira vez em que falo publicamente sobre isso. É difícil rever as lembranças, pois, hoje, eu queria muito acolher a Marília daquele tempo. Foi essa a violência de infância que me desestimulou a estar na escola, mesmo amando estudar.
É preciso ser antirracista
Meu sonho é que o antirracismo deixe de ser campanha de Internet. Racismo é uma violência real e estrutural, miga. Nosso país foi configurado sob moldes cruéis de exploração. Ser antirracista tem a ver com rever nossas formas de trabalho, relacionamento e de interesse também, viu? Não é para pôr tela preta no feed sem gerar reflexão na comunidade! Tô de olho!
Quem são as suas referências?
Falei sobre a importância da construção de referências pretas neste post e aqui sinto uma necessidade de questionar estes lugares “permitidos” para mulheres pretas ocuparem. Um time composto, majoritariamente, por mulheres brancas que só convocam pretas para falarem sobre suas dores, precisa, urgentemente, rever o seu posicionamento antirracista. Moving Black Girls querem ultrapassar a narrativa da dor.
E isso não quer dizer que não falarão sobre racismo, mas que suas vivências são permeadas de muitos conhecimentos. Inclusive, falar só de racismo dói. Mas, o que leva uma mulher negra a dedicar sua vida à intelectualidade é exatamente a necessidade de precisar fazer-se vista, de querer evidenciar a própria jornada, de abrir a discussão para que outras se identifiquem.
Onde estão as intelectuais negras em sua vida?
Miga, se você não sabe por onde começar, primeiramente, promova essa reflexão consigo e:
- Siga intelectuais negras e consuma seus conteúdos;
- Dê créditos às mulheres negras quando citar seus ensinamentos;
- Ecoe o conhecimento de mulheres pretas, a partir do seu lugar de privilégio.
Digo isso, pois para uma mulher preta manter os seus estudos creditados e suas reflexões vivas, é preciso demandar um esforço enorme para fazer-se visível. E fazer-se visível na Internet é: encarar que os maiores canais de conteúdo são protagonizados por pessoas brancas, não importa qual seja o assunto.
Nossa missão, miga, é não nos esquecermos desses esforços e dos nomes no meio do caminho. Busque em seu segmento Moving Black Girls que falem o que você ainda não ouviu!
É tempo de reconstruir suas referências!