Será um adeus à Black Friday?
Miga, você já reparou que algumas marcas deixaram de usar o termo “Black Friday”? Essa tendência chegou com força e o número de marcas adeptas vem crescendo exponencialmente. Mas, vamos entender melhor esse movimento!
Como surgiu a Black Friday?
A “Black Friday” surgiu nos Estados Unidos e se trata de uma sexta-feira de queima de estoques, após o Dia de Ação de Graças. Atualmente, esse dia de descontos se tornou popular em diversos outros países, inclusive no Brasil. Aliás, a “Black Friday” é muito esperada pelos brasileiros que querem fazer alguma compra com desconto.
“Black Friday”, em português conhecida como sexta-feira negra, teve o termo Black apontado como uma conotação racista. No caso, na “Black Friday”, o comércio como um todo traz grandes descontos e oportunidades de compra, mas chamar esse dia de Black, dá ao entendimento literal que preto é algo pequeno e desvalorizado. Há vários anos o termo vem sendo questionado e estudado, porém não há uma explicação da origem do nome. Inclusive, a ligação do termo com a escravidão virou uma lenda urbana, mas já foi desmentida várias vezes por veículos de comunicação como a BBC e o History Channel.
Consumidores mais exigentes e empresas mais conscientes
A cada dia, vemos uma nítida mudança de comportamento do consumidor, que se conscientiza de seus atos e compras. Logo, a preocupação em consumir de empresas e marcas que estejam alinhadas a seus valores éticos e engajadas com causas sociais tem sido fator determinante na decisão de compra.
De acordo com um estudo feito pela Kantar em março deste ano, 87% dos brasileiros esperam que as empresas comuniquem suas ações e também o que estão fazendo no dia a dia empresarial para lidar com a pandemia. Parece que o isolamento social tem colaborado para a construção de um consumidor mais exigente e mais crítico em relação a tratativas que vão muito além do processo de compra e da qualidade de um produto ou serviço. Logo, com a aproximação da data, especialistas e ativistas do movimento antirracismo no Brasil vêm trazendo o questionamento e apontando que o termo “Black Friday” traz sim, uma conotação racista e discriminatória.
As empresas aderiram à mudança!
Com a mudança do comportamento do consumidor, as empresas e marcas estão se tornando mais antenadas ao impacto de suas ações dentro do contexto social e buscando olhar para fora da caixa do processo de venda como único fator determinante para a compra. Dentro dessa movimentação, o Grupo Boticário detentor das marcas O Boticário, Eudora, Quem Disse Berenice?, MultiB, Beauty Box, Vult, Eume e Beleza na Web, por meio do LinkedIn do seu CEO Artur Grynbaum, publicou em 29 de setembro de 2020 que o grupo está deixando de usar o termo “Black Friday” dentro de sua comunicação. No anúncio, Artur escreveu:
Há anos conversamos sobre a possível origem do termo ”Black Friday”, sobre a ausência de dados científicos/históricos que comprovem que esse termo realmente não se relacione à questão da escravidão. Então, respeitando os movimentos que sentem desconforto com o termo, decidimos parar de refletir e começar a agir – não teremos mais o termo Black Friday no grupo Boticário. Precisamos de algo maior e essa transformação deve começar por nós. Esse movimento emergiu nas equipes do Grupo Boticário, a discussão ganhou força e esse é o resultado. Naturalmente há riscos de perdas para o negócio, há pouco tempo para adaptarmos a estratégia e estamos comprometidos em seguir atendendo as necessidades dos nossos consumidores da melhor forma, mas decidimos assumir: melhor que esperar a perfeição, é construir juntos aquilo em que acreditamos.
Artur Grynbaum – CEO do Grupo Boticário
Ainda em seu comunicado, Artur convida a outras lideranças empresariais do país a fazer parte desse movimento e repensarem a sua “Black Friday”, renomeando-a com outro nome, que faça sentido à marca e aos clientes. No Grupo Boticário o termo será substituído por “Beauty Week”.
Afinal, não estamos falando “só” de uma mudança no termo: está em pauta aqui o caminho para alcançarmos o sucesso responsável e dar mais uma contribuição para uma nova perspectiva de raça na sociedade, com senso de urgência e coragem.
Artur Grynbaum – CEO do Grupo Boticário
A decisão da adoção do termo “Beauty Week” pelo Grupo ocorreu apenas 2 meses antes, quando algumas campanhas publicitárias e comunicações já estavam em andamento. Por isso, talvez ainda vejamos o termo “Black Friday” ser utilizado pelas empresas do Grupo, porém em nada desmerece a mudança em andamento.
Após o chamado do Grupo Boticário e o anúncio da mudança do termo e os seus motivos, outras empresas de pequeno e grande porte estão estudando mudar também. Já temos algumas marcas aderindo à mudança, como a Americanas, que utiliza o “Red Friday” fazendo jus ao tradicional vermelho da identidade visual da marca.
Há também a Imaginarium que adotou “Color Friday” buscando trazer a ideia de cores e otimismo para este ano em que o mundo está precisando ser resiliente.
E a nossa amada Moving Girls, que utiliza o termo “Moving Friday” para denominar o dia de descontos dos produtos Moving, com um nome que faz sentido à comunidade.
No Amazonas, será “Semana Promocional”
Um ofício da Defensoria Pública do Estado do Amazonas de 4 de novembro de 2020, foi enviado à Câmara dos Dirigentes Lojistas de Manaus (CDL) e à Associação Comercial do Amazonas (ACA). No documento, a Defensoria argumenta que o termo “Black Friday” carrega conotação racista implícita e, buscando promover respeito às comunidades afrodescendentes, recomendam que os comerciantes do estado utilizem o termo “Semana Promocional”. A Defensoria Pública também se utiliza do fato de que grandes empresas do Brasil baniram o termo “Black Friday”. Um trecho do ofício diz que historicamente o termo se refere a eventos ruins como calamidades e crises, como se a cor significasse algo com valor diminuído.
A palavra preto (black), independentemente da língua ou vernáculo na qual é articulada, é utilizada de forma pejorativa, empregada no menosprezo a uma raça inferiorizada pela intolerância e subjugo histórico. Os termos negro, escuro, preto são utilizados de forma depreciativa, fazendo referência a situações negativas e indesejáveis, tais como: peste negra (black plague), “a coisa está preta”, “o lado negro da força” (the dark side of), “coisa de preto” (black thing), “tinha que ser preto”, “serviço de preto” (black service), “mercado negro” (black market), “não sou tuas negas”, “denegrir” (denigrate), “magia negra” (black magic), “lista negra” (the black list), “ovelha negra” (black sheep) e “Dark Web”.
Defensoria Pública do estado do Amazonas
Ainda no mesmo ofício, a Defensoria Pública aponta a diferença dos significados e contextos entre o termo aplicado nos Estados Unidos e no Brasil:
Nos Estados Unidos da América, o termo Black Friday é utilizado um dia após o Dia de Ação de Graças, com uma representatividade comercial local, o que torna a utilização do termo fora de contexto no Brasil, com uma conotação de discriminação racial, ao dizer que o dia preto é promocional.
Defensoria Pública do estado do Amazonas
Será a despedida do termo “Black Friday”?
É, miga, realmente a sociedade está em evolução! Em situações como essa, é que vemos o quanto um termo comum e banalizado pode sim, ofender e diminuir o próximo. E é vendo um consumidor consciente, exigente e questionador, e empresas ativas em questões sociais e ambientais que conseguimos ver um panorama da realidade e da mudança. É da soma de pequenas atitudes, como a mudança de um termo racista, que formaremos um futuro mais respeitoso e igualitário!
Juliana Kono
Adorei a materia miga! Arrasou. bjo
Bianca Sofilio da Silva
Obrigada, miga!!