Dollar Euro: o repertório de Tássia Reis e sua luta pelo feminismo negro
Feat da rapper Tássia Reis com Monna Brutal, “Dollar Euro” apresenta, de antemão, o contexto da mulher negra, em luta, evidenciando o próprio corre e se orgulhando da história de vida. Vem conhecer essa produção, miga.
Lançado em dezembro 2019, “Dollar Euro” é, sem dúvidas, a realidade de muitas mulheres negras que sobrevivem do próprio trabalho e precisam se reafirmar politicamente na sociedade.
O clipe já bateu 1 milhão de views, sendo o primeiro vídeo a alcançar esse número no canal de Tássia.
“Me dão parabéns
Mas querem meu fim
Querem meus bens, me querem refém, só quero meu gin
Bebendo meu drink, ouço Goldlink
Penso bem assim
Linkando as quebras por onde eu passei com as de onde eu vim
Não aguentam com as pretas que trampam e fazem din din
Só pensam que minas como eu são para servir
Quem?”
Dollar Euro (part. Monna Brutal)
Dollar Euro é estratégia e sobrevivência
A rapper Tássia Reis está em cena há quase sete anos com trabalho musical pautado no feminismo negro, bem como nos relatos sobre sua própria trajetória enquanto mulher negra. Além disso, a rapper iniciou sua carreira em 2014 com o álbum “Tássia Reis”, seguido de “Outra Esfera” e, em 2019 “Próspera”. Suas letras narram uma expectativa individual de um futuro com mais autoconhecimento e superação de dores pessoais.
Em outras palavras, para a cena do rap, que é estruturalmente masculina, Tássia Reis nos provoca a refletir sobre o lugar da mulher negra almejando visibilidade e reconhecimento pessoal e profissional. Permanecer ocupando este espaço é um movimento político.
A sobrevivência da população negra no campo artístico é uma estratégia pessoal de explicitar e denunciar para o mundo, as injustiças e violências experienciadas cotidianamente. Miga, já parou para pensar que essas questões não são absorvidas no mainstream e que ser uma referência feminina e preta, falando sobre questões políticas e prosperando é sim um ato de sobrevivência e resistência?
A referência está na subjetividade
E, por subjetividade, queremos dizer: histórias de indivíduos plurais, atravessados pela violência racial. Cada sujeito tem sua narrativa e parte de um lugar único.
“Sinto que desde que lancei meu primeiro single, as pessoas estavam sedentas por novidades, da minha parte e também de outras artistas que vieram dessa mesma época. Fico feliz por ter o meu olhar particular de compositora, assim como a minha voz, consideradas por essas pessoas que acompanham o meu trabalho. Sinto que o que eu digo extrapola só a minha única experiência, é um relato de vida, não é exclusivo, apesar de ser particular. E fico muito honrada por isso, mas ainda acho pouco. Quero ser protagonista, quero artistas pretas no mainstream”
Tássia Reis para Folha de Pernambuco
Quando uma mulher preta diz que “seu corre é outro”, pode ter certeza de que ela fala sobre fazer ecoar a própria voz, de forma independente, bem como atravessando questões estruturais.
Entretanto, as narrativas pretas importam para quem?
Consumir um audiovisual que fala da subjetividade da mulher preta é um exercício de reflexão e conhecimento. Uma oportunidade para acessar histórias diferentes das nossas e, acima de tudo, fortalecer quem faz arte usando o que tem em mãos.
Dollar Euro nos mostra que:
- Tássia Reis, além de gênia, é uma potência que transforma o cenário musical;
- O poder da mulher preta transcende suas próprias dores através da arte;
- Precisamos rever nossas referências e questionar o mercado e sociedade que invisibiliza as múltiplas mulheres negras.
Que tal ampliar as suas referências, miga?
Comece por essas duas:
Bia Ferreira – Cota Não é Esmola
Preta Rara – Álbum Audácia
Por fim, indicamos fortemente que você amplie suas refs e esteja atenta aos nomes e rostos de mulheres pretas que estão em cena há muito tempo e denunciam o apagamento estratégico e estrutural da sociedade, do mercado e do imaginário.