Generalistas, especialistas ou multipotenciais: quem pode ser autoridade?
Existe um grande debate na internet e fora dela sobre os profissionais mais bem procurados, pagos e valorizados. Seriam eles os especialistas? Os generalistas? Ou os multipotenciais? A grande verdade é que muitas vezes nos falta clareza do significado de cada termo e como eles podem validar ou invalidar ao outro.
Especialistas: quem sabe mais sobre menos coisas
A visão das pessoas é de que especialistas são limitados e consequentemente têm menos oportunidades no mercado de trabalho. Esse tema foi comprovado por um estudo conduzido em 2017 pela Columbia Business School e pela Tulane University, ambas nos Estados Unidos, apontando que generalistas encontram mais espaço e melhores condições no mercado de trabalho.
Não é mentira dizer que um especialista sabe menos sobre outras coisas, isso porque seu foco de tempo foi 95% voltado à sua área de especialização. Agora, é fato que podemos dizer que um especialista sabe muito mais sobre um assunto do que um generalista, pelo mesmo motivo.
Quando falamos em grandes corporações e empregos (o mercado de trabalho tradicional), o tipo de profissional especialista é pouco valorizado pelo seu alto custo e por não conseguir atender outras demandas dentro da empresa. Isso porque nosso mercado de trabalho tradicional sempre vai optar pagar menos por um profissional que possa fazer mais.
Para o portal Educa Mais, isso é explicado da seguinte forma: “um movimento de mercado que pode favorecer os generalistas é a transferência de pessoal entre departamentos dentro das empresas. Se o profissional tiver condições de atender as demandas internas em diferentes setores, estará mais apto a atuar em áreas diversas dentro da organização. Ele será visto como “mais útil” ao negócio, e, portanto, mais competitivo”, completa.
O fator determinante: a autoridade
A grande questão é que muitas vezes os especialistas não querem seguir uma carreira tradicional e aí entra um fator determinante para essa escolha de carreira: a autoridade.
Quando você é autônomo ou liberal e vive do seu próprio conhecimento, a especialidade te dá a oportunidade de você virar uma autoridade em determinado assunto. Além disso, se sua ambição for essa, você passa a ganhar muito mais do que os generalistas dos mercados tradicionais, justamente porque você é altamente valorizado por resolver um problema específico que generalistas não conseguem.
Leia mais sobre: Marketing de Autoridade: o que é, benefícios e como fazer
Vamos usar o exemplo dos médicos. Se você tiver um problema no coração, vai buscar um clínico geral ou um cardiologista? Mesmo que o cardiologista custe mais, você preferirá pagar por alguém que seja mais assertivo na resolução dos seus problemas. Isso não quer dizer que generalistas não sejam assertivos, mas pela lógica, quando você dedica muito tempo e investe anos para se especializar em um assunto, automaticamente você é mais apto para resolver um problema daquele determinado assunto.
Vale lembrar que para problemas muito específicos, os próprios generalistas contratam especialistas. Para Claudete Lovera, Coach de Executiva e Mentora de Mulheres, isso é um fator indicativo de grande responsabilidade, mas também de retorno profissional e financeiro.
“O mercado do especialista é mais restrito, exigindo deste tipo de profissional, além de autoridade, comunicação assertiva para atingir seu público. Ele deve ter em mente que apenas uma fatia do público mostrará interesse pelo seu produto ou serviço, também terá que desenvolver competências para ser o mais assertivo possível. No entanto, seu público estará disposto a pagar mais caro, pois seus clientes esperam que o especialista apresente os melhores resultados”.
Claudete Lovera, Coach de Executiva e Mentora de Mulheres
Generalistas: quem sabe menos sobre mais coisas
Os generalistas são profissionais muito aclamados pelo mercado de trabalho e o mundo do empreendedorismo. Isso acontece porque são eles que alcançam cargos de liderança em empresas e se tornam CEOs rapidamente. O profissional considerado generalista é aquele que consegue interagir e contribuir em diversas áreas do conhecimento. Esses profissionais conhecem sobre várias coisas e decidiram não ser especialistas, pois assim o leque de possibilidades é maior.
Entretanto, como aponta Claudete, esses profissionais podem ser menos valorizados. “Os profissionais generalistas podem ter vários clientes e assumir vários tipos de trabalho. Talvez uma das desvantagens seja pegar trabalhos que não gosta de fazer. Outra pode ser ter cobrar um preço menor, já que a concorrência é maior. Generalistas têm mais oportunidades de trabalho, mas tendem a ganhar menos por trabalho”, acrescenta a coach.
Vale ressaltar que valorização não é somente o ato da contratação, já constatamos que os generalistas têm mais oportunidades no mercado de trabalho convencional. Um exemplo é se esse profissional geralista quiser monetizar seu conhecimento e criar autoridade, vivendo como autônomo ou liberal.
Existe autoridade para um generalista?
Para criar autoridade e ser uma referência, vivendo de palestras, cursos, eventos, livros, etc, é mais fácil quando você é um especialista. Isso acontece porque as pessoas tendem a consumir conteúdo de quem é assertivo na dor delas. Um generalista, muitas vezes, é visto pelas pessoas como alguém superficial, mesmo que não seja.
Trabalhando dentro da autoridade, o generalista vai ter dificuldades com isso. A autoridade é uma percepção que o outro tem sobre você, e essa visão superficial atrapalha na percepção de autoridade.
Multipotenciais: o conceito incompreendido
Há quem diga que os multipotenciais são os generalistas, mas neste artigo discordamos disso. Emilie Wapnick, escritora e coach de carreira, fala mais sobre multipotencialidade no seguinte TED Talks.
O conceito de multipotencilidade é você ser um eterno aprendiz, adquirindo conhecimentos novos a todo momento e não se limitando a crenças pré-estabelecidas, como: quem fala de x, não pode falar de y. Você pode ter potencial em mais áreas do que em outras, mas isso não se opõe à sua especialidade.
Isso porque você tem o poder, inclusive, de criar uma nova especialidade a partir da síntese de ideias das suas multipotencialidades. No vídeo, Emilie cita Sha Hwang e Rachel Binx que combinaram cartografia, combinação de dados, matemática e design e criaram uma empresa de joias personalizadas chamada Meshu. A Meshu cria jóias (especialidade), mas tem inúmeros potenciais, como matemática, design, etc.
Outro case legal é Nora Dunn, escritora freelancer. Como pianista concertista mirim, ela adquiriu a habilidade de desenvolver memória muscular. Isso configurou Nora a datilógrafa mais rápida que conhecemos. Antes de ser escritora, Nora foi consultora financeira. Essa experiência permitiu que ela escrevesse grandes frases de efeito que atraíssem editores. Nora tem uma especialidade: ser escritora. Suas outras potencialidades entram para gerar valor a sua especialidade. Mais uma vez, combatemos a ideia de que ser multipotencial é necessariamente ser generalista.
Quem são os multipotenciais: especialistas ou generalistas?
Em 1972, R.H. Fredrickson definiu uma pessoa multipotencial como alguém que “quando inserido com ambientes apropriados, pode selecionar e desenvolver uma série de competências em alto nível”. É claro que muitas pessoas, ao longo dos anos e teses de doutorado, inseriram suas ideias no que significa o termo multipotencial.
Para Isis Jade, autora do livro “Sua Missão Eupossível: Como descobrir seu propósito e viver a vida dos sonhos“, multipotencialidade refere-se simplesmente ao potencial de uma pessoa em vários campos, devido aos seus diversos interesses e tentativas.
Não estou dizendo que você vai fazer de tudo, como um generalista. Eu sou jornalista, designer gráfico, assessora de imprensa, analista de conteúdo e especialista em marketing de autoridade. Eu tenho uma especialidade, mas tenho outros potenciais. A forma como eu organizo isso é que determina se sou generalista ou especialista.
Os especialistas multipotenciais
Segundo James Liu, fundador e desenvolvedor da BoxCat Games, chega um ponto específico em sua vida, onde você pode alcançar ou obter um domínio próximo de um assunto específico. “Eu gostaria de enfatizar, você não pode ser um “faz-tudo” sem ser um mestre de pelo menos uma área. Pode ser habilidades sociais, fabricação de bonecas, matemática, idiomas, consciência emocional – você deve ser um mestre de pelo menos um para partir para outros setores”, confirma Liu.
Ainda segundo Liu, o domínio de um área pode ser convertido em um catalisador para aprender outras áreas. “Você tem conhecimento suficiente para extrair algo novo, ideias complexas que você pode identificar padrões e analogias metafóricas que podem completar um contexto. Quanto mais você aprender, mais rápido você aprende”.
O multipotencial pode ser um generalista que escolheu não se especializar, ou pode ser um especialista que encontrou uma forma de trabalhar o assunto que domina de maneira única. Dessa forma, não existe a grande guerra entre especialistas e multipotenciais, e nem podemos dizer que um multipotencial – seguindo essa definição – é um generalista.